
Esta vida acelerada e estafante que a gente leva está pedindo um tempo.
Nada mais justo.
Carl Honoré em seu livro “ Devagar”- define com muita propriedade a necessidade de desaceleração em nossas vidas. Devagar, pé no freio, slow.
Na verdade tudo isso começou com o movimento “Slow food”, surgido na pequena cidade italiana de Bra e que ganhou adeptos no mundo inteiro, graças ao trabalho incansável de seu presidente, o italiano Carlo Petrini. O símbolo do Slow food é o caracol. Nada mais slow. não é mesmo?
O Slow food não é apenas sentar-se à mesa e comer devagar, mas toda uma atitude diante da comida, seja pelos ingredientes usados, seja pelo cultivo de produtos naturais ou pela valorização de produtores e artesãos competentes que vem resgatando a maneira antiga de se produzir, cuidadosamente, um queijo de cabra, uma geléia de jabuticaba, um frango caipira criado solto, sem hormônios de crescimento.
O Slowfood busca também resgatar antigas receitas de nossas mães, avós e tias, de lembranças gustativas memoráveis.
Você encontra esse tipo e esse espírito de comida em alguns pequenos restaurantes campestres na Europa. As pessoas que vivem em grandes cidades costumam ir longe para resgatar essa forma de se sentar à mesa para apreciar uma boa comida e colocar a conversa em dia, sem pressa de nada.
Como pede uma tarde no campo.
No Brasil, isso ainda é muito pouco praticado. Claro, alguns cariocas vão até Vargem Grande ou mesmo à Serra das Araras à procura de boa comida e algumas horas de paz. É programa tipo bate e volta. E, com certeza, quem freqüenta lugares como esses, certamente deixa a pressa na cidade.
São Paulo é um pouco mais preguiçoso nessas aventuras culinárias.
E o grande concorrente desses pequenos e exclusivos restaurantes campestres como o Quinta da Canta é o tempo. Nublou o tempo, ninguém sobe a serra. Pena um pensamento desses, porque você não pode fazer idéia de como é gostoso e curtido um dia de chuva ou mesmo um tempo nublado na Cantareira.
Perdão, ao longo desses quase 6 anos do Quinta da Canta a gente conseguiu reservar mesa para muitos dos nossos clientes habituais, com chuva ou sem chuva. Mas a verdade é que a grande maioria olha pro céu e, dependendo da sua cor, não sai pra comer muito longe do seu habitat. E dá-lhe o fast food mesmo. Um hambúrguer no shopping e pronto.
Às vezes eu e Teresa ficamos desanimados, achando que essa coisa de resgate culinário, de mesas sem turnover, de “silou”, como diz um “cumpade” amigo meu, não combinam com o agito da cidade grande.
Mas alguma coisa no vento nos diz que o paulistano também vai andar mais para comer bem e passar uma tarde em paz.
A gente espera. Sem pressa.
SL.
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